Perguntas e respostas: água e saneamento

Perguntas e respostas: água e saneamento

Categoria(s): Arquivo, Plantando Águas

Publicado em 27/01/2020

Texto: Marina Vieira

O monitoramento tem, desde a concepção do Plantando Águas, uma função de extrema importância: informar as comunidades que participam do projeto sobre a qualidade da água que as cercam. Para conseguir desempenhar este papel, com recursos limitados e uma área grande de cobertura, o projeto se aliou à Universidade de São Paulo, campus São Carlos, e escolheu pontos e períodos estratégicos para coleta de amostras.

Os dados completos foram apresentados às comunidades e autoridades locais e serão publicados como artigo científico. Aline Zaffani e Natália Pelinson, biólogas especializadas em água e saneamento responsáveis pelos estudos, contam um pouco dos resultados obtidos.

Qual é o diagnóstico sobre a qualidade da água nas comunidades participantes?

No rios fizemos uma coleta em estação seca e uma na chuvosa. O que notamos ao comparar os resultados é que a qualidade deles é boa. Considerando os parâmetros analisados, poderiam ser enquadrados na classe 2 pela Resolução CONAMA 357/2005, que permite o consumo após tratamento convencional. Na estação chuvosa, vários dos parâmetros aumentaram, quando comparados com a estação seca, mas não representam foco de preocupação.

Vale ressaltar que algumas características das comunidades que favorecem tais resultados são a manutenção da mata ciliar ao longo dos corpos hídricos, a distância das casas e sistemas de cultivo dos rios e as práticas de manejo do solo adotadas. Ou seja, a adoção de ações como as que são promovidas pelo Plantando Águas ajuda na manutenção da qualidade das águas dos rios, proporcionando melhor qualidade de vida para a comunidade local e contribuindo para a saúde da bacia hidrográfica.

Houve melhora na qualidade da água nesse tempo de atuação do projeto?

É difícil relacionar os resultados dessas coletas com as ações do projeto por três motivos:
1. Não houve monitoramento direto de locais com lançamento de esgoto doméstico em corpos hídricos;
2. O monitoramento para essa finalidade de acompanhamento de mudanças promovidas é um processo longo e precisaria ter recursos para continuar por mais tempo e com frequência maior de amostragem;
3. O tamanho das comunidades e a localização das ações do projeto nesses locais, muitas vezes dispersa, nem sempre vão refletir diretamente na qualidade da água.

Aline Zafani conduz oficina no assentamento Bela Vista do Chibarro

Quais fatores de risco para a saúde foram encontrados?

No caso da água de consumo, encontramos diferentes fontes de abastecimento, como água subterrânea de poços individuais ou coletivos e águas superficiais de rios, coletadas próximas às nascentes. Em todas elas o principal problema é que a água não passa por nenhum tratamento antes da ingestão. Nem o tradicional filtro de barro tem sido utilizado! Ainda prevalece no campo a ideia de que a água dessas fontes é limpa e pronta para o uso.

A forma de armazenamento até o consumo também foi algo que nos chamou a atenção. Nas comunidades em que a água é coletada de nascentes, essas normalmente ficam a quilômetros de distância do armazenamento e são transportadas de forma, muitas vezes, improvisada, dificultando a limpeza e manutenção de redes e reservatórios de água. A tubulação nem sempre é apropriada para condução de água e no final ela é armazenada em caixas sem tampa ou com vedação inadequada. O resultado inicial é que a água apresenta maior chance de contaminação. No caso dos poços, encontramos situações de contaminação por elementos presentes em rochas e solos da região (alumínio e ferro, por exemplo) ou mesmo por contaminação superficial devido à baixa profundidade de perfuração.

Em todos os casos mencionados há risco de contaminação por bactérias, vírus, protozoários e vermes que podem causar doenças transmitidas pela água, por isso é muito importante aumentar o cuidado com a água de consumo.

Como melhorar a segurança no consumo de água na zona rural?

As ações mais importantes são: a instalação e limpeza de caixas d’água individuais e a adoção de sistemas simples (e baratos!) de tratamento, como clorador e filtro de barro.

Quando os sistemas forem coletivos:

1. Definir responsável(eis) pelo sistema e uma frequência para a manutenção da captação e rede de distribuição da água;
2. Realizar limpeza frequente das caixas de armazenamento de água;
3. Sempre que possível, instalar caixas d’água individuais em tamanhos proporcionais ao consumo doméstico;
4. Instalar sistemas simples e individuais de tratamento como filtros de linha e cloradores, que ficam antes da caixa d’água da sua casa e filtros de barro (ou de vela) que ficam dentro de casa;
5. Estar atento para mudanças na cor, cheiro e presença de substâncias na água e suspender o uso até que melhore.

Para os sistemas de coleta de água em poços de água subterrânea:

 
1. Fechar o poço de maneira adequada para evitar a entrada de contaminação;
2. Realizar ao menos uma análise para saber quais as características da água de consumo;
3. Instalar caixas d’água individuais, que facilitem a limpeza dos reservatórios e inspeção da água;
4. Instalar sistemas simples e individuais de tratamento;
5. Estar atento para mudanças na cor, cheiro e presença de substâncias na água e suspender o uso até que melhore.

Para os sistemas de coleta de água em nascentes:


1. Proteger o entorno da nascente, para evitar contaminação direta por animais e materiais grosseiros nos períodos chuvosos;
2. Realizar ao menos uma análise para saber quais as características da água de consumo, de preferência nos períodos de chuva pois são propícias as contaminações por sedimentos carregados pela água;
3. Instalar caixas d’água coletivas ou individuais, cuja a limpeza e inspeção dos reservatórios sejam realizadas com frequência;
4. Instalar sistemas simples e individuais de tratamento;
5. Monitorar mudanças na cor, cheiro e presença de substâncias na água e suspender o uso até que melhore (em situações emergenciais, filtrar e ferver a água antes de usar).

Quais doenças estão atreladas à falta de saneamento, e em quanto tempo se espera uma melhora após uma intervenção como a do plantando águas?

A destinação não ambientalmente adequada de esgoto pode propiciar o aumento de doenças de veiculação hídrica entre os moradores, como gastroenterite, febre tifoide, hepatite A, cólera, amebíase, giardíase, amarelão, esquistossomose, entre muitas outras. O principal contribuinte na transmissão dessas doenças é o esgoto proveniente da descarga do banheiro, também conhecido como Água Escura. As demais águas da casa (como de pias, tanques, chuveiros e máquina de lavar) compõem a chamada Água Cinza. Esta também pode conter materiais contaminantes e microrganismos que transmitem doenças. Ao tratarmos o esgoto doméstico (águas escuras e cinzas) estamos minimizando o risco de contaminação dessas doenças, e os impactos na melhoria da saúde podem ser observados em pouco tempo, principalmente se não houver mais o contato dos moradores com os efluentes finais do tratamento.

Análises apontam necessidade de tratamento antes do consumo

No entanto, é importante finalizar adequadamente a fossa que antes recebia essas águas, em especial em áreas próximas às moradias e coletas de água de abastecimento, como nascentes, rios e poços.

Também são necessários cuidados ao manusear os efluentes de sistemas de tratamento, como as fossas sépticas biodigestoras. Apesar de já terem sido tratados e grande parte dos micro-organismos poderem ter sido removidos, ainda é preciso ter atenção e se possível usar equipamentos de segurança como luvas e sapatos impermeáveis. Além disso, a recomendação repetitiva e muito séria é de sempre lavar as mãos após mexer com os efluentes, afinal, estamos falando de tratamento de esgoto.

Como está o desempenho das fossas de bombonas, que são novidade no projeto?

O que pôde ser observado ao longo do monitoramento é que os sistemas estão melhorando, em termos de eficiência de tratamento, desde que foram instalados, e que servem como um pré-tratamento do esgoto, pois é necessário que ele passe por outras formas de tratamento.

Por isso, após cada sistema instalamos uma vala de infiltração, com pedras, solo e o plantio de espécies da região, que servem para delimitar o espaço onde ocorre o tratamento do esgoto. Quanto mais comprida for a vala de infiltração, melhor, pois garante que o efluente será filtrado e vai penetrar seguramente no solo, sem que o morador entre em contato com o líquido.

O monitoramento de um ano realizado pelo projeto aponta que esse sistema não permite o aproveitamento do efluente como fertilizante, mas remove parte da matéria orgânica, nutrientes e bactérias presentes no esgoto. Por ser um sistema de baixo custo e assim poder ser adotado por mais pessoas, ainda carece de mais estudos para a caracterização do efluente e de monitoramento por mais tempo, para que aperfeiçoamentos possam ser realizados e assim esse sistema possa ajudar mais pessoas que não têm acesso a coleta e tratamento de esgoto.

Após o encerramento do projeto, os usuários podem realizar o acompanhamento do sistema e devem se manter atentos aos cuidados de manutenção que lhes foram passados, assim como ficarem atentos aos sinais de mau funcionamento como cheiro e presença de insetos nas bombonas. Assim, frisamos que o mais importante é que seja inserido o material inoculante periodicamente e religiosamente. Um sistema malcuidado é um sistema que dificilmente vai ter um bom funcionamento.

 

 

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