O segundo ciclo do Plantando Águas segundo os agricultores

O segundo ciclo do Plantando Águas segundo os agricultores

Categoria(s): Arquivo, Plantando Águas

Publicado em 24/01/2020

 Texto e fotos por Marina Vieira e Daniel Miyazato

Seu Sebastião Duque, 76 anos, assentamento Santa Helena, São Carlos

Aqui nessa área que estamos aqui, a estrutura que tinha aqui era terra batida, cinza de cana e não tinha nem onde reclinar essa cabeça. Porque tudo que vocês estão vendo aí, estão vendo aí, ó: esses pés de árvore, mamoeira, abacate produzindo, não existia isso aqui.

Hoje nós temos o aproveitamento da água, além de fazer a limpeza da terra. Não está contaminando o solo. Então essa palavra Plantando Águas é uma coisa que a gente não esquece. Para mim foi um momento de muita alegria.

Argentina Amaral dos Santos, 42, assentamento Bela Vista do Chibarro, Araraquara

O Plantando Águas, na minha família, foi muito importante, porque o grupo veio com todo amor, todo carinho. Pessoas maravilhosas, determinadas a lutar com a gente. Implantaram a fossa, cercaram a minha casa. Está sendo muito útil para minha família, muito maravilhosa. Não temos mais contaminação, mal cheiro.

As mudas que vieram foram doação, o SAF está seguindo em frente. Eles estão até hoje nos dando apoio. Espero que continuem com a gente. Está planejando acabar agora em dezembro, mas nós não queremos acabar com essa união, com esse grupo que foi construído.

Se fosse para nós construirmos isso sozinhos, não iríamos conseguir. Não tínhamos condições de construir uma fossa como esta que vocês trouxeram. E vocês, sol a sol, com a gente, lutando, plantando.

Eu só tenho a agradecer a vocês. Por tudo que fizeram por nós, por todos do grupo. Agora falo por todos, porque tenho certeza que todos estão agradecidos por terem recebido vocês aqui. Nós é que fomos premiados por termos sido escolhidos por vocês.

Maria Chiari, 66 anos, propriedade particular, Piedade

Aqui é uma propriedade com 7 hectares, aproximadamente, e sem o recurso hídrico necessário. A gente é abastecido exclusivamente por um poço caipira, que não conseguia produzir água nem para a base da família, muito menos tocar alguma plantação, alguma coisa que necessitasse de água.

Apareceu o projeto Plantando Águas e foi feito um estudo da área, foi feito um projeto em cima, foi feita a recuperação do solo, plantando feijão guandu e em seguida foram plantadas mudas nativas e algumas frutíferas das quais se poderá extrair o produto no futuro.

Decorridos de 6 a 8 meses, nós começamos a perceber a alteração da vazão do poço caipira. Ele começou a atender mais a nossa demanda, com exceção obviamente da época de extra seca, quando ele deu uma diminuída na vazão, coisa óbvia e natural, porém não chegou a esgotar como acontecia nos anos anteriores. Nós estamos aqui desde 2008, então são 11 anos dos quais em 10 tivemos imensa dificuldade com a água, só nesse último ano é que diminuiu bastante a nossa preocupação de como conseguir água.

Benefício maior do que esse, para mim, não tem.

Maria Rodrigues, 59 anos, assentamento Horto Bela Vista, Iperó

Foi o primeiro sistema agroflorestal implantado no meu lote como sistema agroflorestal, porque eu já tinha um quintal agroflorestal. Ao ver a implantação desse sistema agroflorestal no meu lote e em mais 8 lotes aqui do assentamento, a gente cria um conhecimento a mais junto com estes outros agricultores assentados do ponto de vista dos cursos, das capacitações, dos mutirões de aplicação e as oficinas de manutenção do sistema agroflorestal.

E a implantação desse SAF também veio de fato dentro de uma demanda, porque já estávamos com o credenciamento orgânico na OCS (Organização de Controle Social) Unidos Venceremos e quando se fala dessa questão da biodiversidade nos sistemas de plantio, tínhamos discutido nessa OCS de que a gente queria implantar um sistema agroflorestal. Quando soubemos do Plantando Águas, entramos em contato, falando: “aqui também nós queremos”.

Então, o Plantando Águas significa para mim a concretização de um grande sonho de de fato aplicar na prático um sistema agroflorestal. Hoje, vendo várias dessas árvores despontando, altas... No dia a dia, fizemos uma hortaliça no meio, vendo elas crescendo. Eu vejo que esse sonho é tão belo, que é maior do que eu imaginava. Significa para mim essa alegria, essa fortaleza e essa resiliência de mim junto com o crescimento desses indivíduos florestais, emanando nesse pequeno pedaço de chão todas as benesses que o sistema agroflorestal proporciona para a terra.

Fizemos um estudo de cromatografia e a área onde foi implantado o sistema agroflorestal é a área onde já se deu maior equilíbrio na busca da fertilidade do solo. Viva! Isso para mim foi uma coroação de muita gratidão de ver esse resultado também na recuperação do solo.

Ângela do Carmo, 16 anos, Área de Proteção Ambiental (APA) Rio Vermelho, Barra do Turvo

Quando foi feito o mutirão não pude participar porque estava na escola, mas quando precisa eu ajudo a mãe a coroar as mudas, a plantar as nativas, passar calcário na terra, plantar guandu... É meio pesado trabalhar na roça, e não tem muita renda para ficar, a gente que quer criar renda tem que sai para fora. Mas achei [o Plantando Águas] uma ideia boa porque para comprar as mudas está bem caro, eu fui com a minha mãe num lugar só de frutíferas, ela comprou só que saiu bem caro, 50 reais a menor muda. Seria bem complicado se fosse pra comprar tudo e quando apareceu o projeto e a gente podia escolher as frutíferas foi muito bom. Ajuda, dá mais ânimo.

Arlete do Carmo, mãe da Ângela, 40 anos, APA Rio Vermelho, Barra do Turvo

Achei bom também, a gente consegiu fruta que não ia conseguir, já tinha tentado a universidade e não deu certo. Na parte do SAF queria plantar mais nativas também, algumas não pegaram, mas a gente vai replantar. E as frutas vão servir para a gente comer, beber, igual eu faço com as outras. Se não tiver comércio próprio nós damos um jeito, igual o cambuci, que eu não queria no começo mas aceitei, e depois vendi 400 reais só de cambuci. Apesar de dar o maior trabalho para mim, gostei (risos). A equipe atendeu a gente super bem, fizeram análise da terra que a gente nunca tinha conseguido na vida.

Saneamento foi a melhor parte. Era o ponto mais fraco da gente aqui. Tanto que quando saiu esse projeto eu já queria me inscrever, porque a minha fossa vazava. E agora não tem cheiro, não incomoda... Ajuda bastante. Tinha gente que fazia direto no mato. Aí quando o pessoal via que a nossa tava funcionando, vinham correndo, queriam fazer também. Aqui era um bairro bem esquecido, a gente nunca ganhou nenhum projeto. Então eu daria nota 10.

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