Três organizações parceiras da ONG receberão o apoio para continuarem seus trabalhos
A Iniciativa Verde, organização socioambiental sem fins lucrativos, captou recursos que a Swiss Re Foundation lançou em resposta à pandemia do novo coronavírus e irá destiná-los a parceiros em três regiões diferentes. Equipes na Serra da Mantiqueira, Vale do Ribeira e na bacia do rio Piracicaba receberão cerca de quatro mil dólares cada para continuarem atuando, dentro das possibilidades sanitárias, e para aumentarem sua segurança financeira diante da recessão econômica causada pela doença.
Na Mantiqueira, região que tem abrigado os projetos voluntários de restauração florestal da Iniciativa Verde, é o Grupo Dispersores que receberá o investimento. Com ele, poderá comprar mudas e seguir com o monitoramento das áreas em restauração, localizadas no entorno de mananciais que compõem a rica rede de bacias que nascem ou passam pela Serra, e que servem para abastecer de água e energia milhares de habitantes da região Sudeste do Brasil.
O principal impacto da pandemia para os Dispersores foi no trabalho de educação ambiental que desenvolviam com escolas públicas da região. Sendo o isolamento social ainda a única medida eficaz contra a disseminação do vírus, este ano eles não receberam visitas de nenhuma turma ao viveiro da instituição. O trabalho, no entanto, não parou. “A produção de muda nativas precisa de um cuidado diário”, justifica Evandro Negrão, coordenador de projetos do Grupo Dispersores. Sobre a doação, ele avalia que veio numa boa hora, pois sem ela pelo menos duas pessoas que trabalham no viveiro teriam que ser demitidas ou afastadas. “Agora dá para manter por mais um tempo, e enquanto isso vamos puxando outras fontes de recurso", completa.
Outra região de grande importância ambiental é a do Vale do Ribeira, maior remanescente contínuo de Mata Atlântica do país, localizado na divisa dos estados de São Paulo e Paraná. Lá, o recurso vai para a Associação dos Moradores e Agricultores Familiares do Rio Vermelho e Adjacências e será usado na aquisição de equipamentos para estoque de sementes e processamento de frutos, especialmente o do cambuci e da palmeira jussara, espécies nativas e que já tem um mercado de nicho estruturado. Arnaldo Pedroso relata que, sem equipamentos adequados, a perda de produção é grande. “São espécies que tem que ter alguém cuidando, pois os frutos são sensíveis. Acabou de madurar e com um dia ou dois você já não aproveita mais”, conta o agricultor.
A região do Vale é marcada também pela vulnerabilidade social, com cidades que figuram entre os menores Índices de Desenvolvimento Humano do estado de São Paulo. Arnaldo conta que, apesar de nenhum de seus “companheiros de lida” ter contraído a COVID-19, eles sentiram o balanço na saúde mental, por ser uma situação que ninguém esperava. Muitos tiveram que recorrer ao Auxílio Emergencial disponibilizado pelo governo e, assim como milhares de brasileiros, tiveram problemas no recebimento das parcelas. Segundo um estudo da Fundação Getúlio Vargas, agricultores estão entre os profissionais mais afetados pela recebimento do auxílio, com um aumento médio de renda de quase 60% em relação ao período pré-pandemia, o que evidencia a importância de programas de distribuição de renda para a categoria.
Para o Instituto Pró-Terra, parceiro da Iniciativa Verde em projetos de restauração na bacia do rio Piracicaba e adjacentes e terceira instituição a receber os recursos da Swiss-Re, a pandemia barrou planos de crescimento. A ideia era contratar mais dez pessoas para integrar a equipe atual de 20 “plantadores de floresta”, como define Guilherme Moya, presidente do Pró-Terra, além de mudar a sede para um lugar maior. Assim como os Dispersores, eles também tiveram que suspender as atividades de educação ambiental e estudam a melhor forma de continuar de forma remota.
No Pró-Terra a adaptação para seguir com o trabalho de campo já foi implementada. Além de revezamento no escritório, foram estabelecidas jornadas de 15 dias para os plantadores de florestas, período no qual eles ficam alojados nas fazendas, diminuindo assim o risco de contaminação. Aumentaram também a quantidade de carros usados nos deslocamentos, o que significou um maior gasto com transporte. O recurso recebido será usado para cobrir esses custos extras, assim como para a compra de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) como máscaras e álcool em gel.
“Durante esses tempos difíceis, é crucial que nos juntemos e nos ajudemos”, declaram os porta-vozes da Swiss Re. Os funcionários da empresa multi-nacional elegeram a Iniciativa Verde como Charity of the Year (instituição beneficiada do ano), alinhados com uma das áreas de foco da Swiss Re Foundation, a de a Gestão de Riscos Naturais e Climáticos. Além do fundo emergencial de resposta à COVID-19, a empresa também financiou diretamente a restauração de 40 mil m² de floresta na Serra da Mantiqueira, que serão plantados na próxima temporada de chuvas.