Em uma transmissão especial no YouTube na última segunda-feira (23/06), a Iniciativa Verde reuniu especialistas e comunidades para discutir a atuação na cadeia de restauração florestal do Vale do Ribeira. O evento, alinhado ao Mês do Meio Ambiente, destacou avanços e desafios vividos por quem atua diretamente no campo.

Um trabalho coletivo

Roberto Resende, presidente da organização, abriu o debate enfatizando o caráter integrado do trabalho: "A cadeia da restauração não é isolada. Agricultores produzem mudas, prestam serviços e colhem sementes, fortalecendo uma economia verde que combina conservação e geração de renda". A professora Francisca Alcivânia (Unesp Registro) reforçou o papel da academia: "Nossa atuação une pesquisa, assistência técnica participativa e valorização dos saberes locais, formando profissionais que entendem a realidade do território".

Obstáculos no caminho

Os desafios cotidianos foram narrados por quem vive o campo. Arnaldo Pedroso, viveirista de Barra do Turvo, relatou: "O maior obstáculo é negociar o acesso às áreas. Muitas vezes encontramos resistência, e precisamos explicar que restaurar é essencial para nosso futuro". Jaqueline Miranda, da Rede de Viveiros do Vale do Ribeira, sublinhou a complexidade burocrática: "Temos que guiar os viveiristas em cada detalhe da documentação. Se a explicação não for minuciosa, surgem conflitos".

Apesar destas questões, o trabalho tem caminhado no Vale. Ocimar Bim (IPA) apresentou conquistas tangíveis após 14 anos de presença da Iniciativa Verde na região: "Já restaurarmos cerca de 1.500 hectares no Vale do Ribeira, com mais de 1 milhão de árvores plantadas. Essa rede envolve quilombolas, indígenas e agricultores, transformando a relação com o território". Jaqueline complementou: "Antes éramos invisíveis. Hoje jovens retornam às comunidades, interessados em trabalhar com viveiros e agrofloresta".

Olhos para o futuro

Para o futuro, Resende defendeu políticas públicas consistentes: "Programas como o Nascentes precisam de continuidade, e a regulamentação do carbono deve beneficiar comunidades e biodiversidade, não apenas o mercado". Bim projetou expansão: "Precisamos tornar o Mosaico Jacupiranga área prioritária para restauração em São Paulo e exportar nosso modelo de viveiros comunitários para outras regiões da Mata Atlântica".

Reinaldo Canto, jornalista que mediou o debate, encerrou a live celebrando a Rede de Viveiros do Vale do Ribeira – hoje com 18 unidades ativas e mais de 100 pessoas envolvidas – como símbolo de um legado construído por universidades, poder público e comunidades. A gravação completa está disponível no YouTube da Iniciativa Verde.