Tem mate aqui

Tem mate aqui

Categoria(s): Arquivo

Publicado em 18/10/2018

Quando o assunto é erva-mate, existem três usos bem típicos que vêm à tona: o chimarrão do sul do Brasil, o tererê do centro-oeste, e o mate com limão das praias do Rio de Janeiro. Dificilmente alguém pensaria em São Paulo, o estado do café e do suco de laranja. Mas o território paulista é parte da região natural de ocorrência da Ilex paraguariensis, que era consumida pelos índios daqui, e que encontra cultivo até hoje em regiões como o Vale do Ribeira.

O agricultor Valdeci Bueno mora numa Unidade de Conservação do Mosaico do Jacupiranga e conta que a erva se desenvolveu muito bem ali. “Não dá trabalho. É preciso preparar a muda de bom tamanho, acima de 20cm, e depois a fazer a manutenção, nem tanto podar, mas adubar, fazer a limpeza. Depois de 2 anos em diante, mesmo sem ter muita manutenção ela vai bem, porque a região é úmida”, conta. Era de conhecimento das pessoas que moram ali que ela era nativa da região, então resolveram investir para trazer ela de volta.

Yeda Maria Malheiros de Oliveira, pesquisadora da Embrapa Florestas, conta que a planta é nativa da Floresta Ombrófila Mista (FOM), que é aquela com presença de araucária, e que existem capões de FOM em São Paulo e encraves no Rio de Janeiro e Minas Gerais, sempre nas regiões de maior altitude.

“Aparece como uma das espécies mais frequentes, mesmo porque, no passado, cortavam-se árvores de outras espécies e poupavam a erva-mate, justamente por seu uso principal ser não madeireiro”, relata Yeda.

Esse é inclusive um dos motivos que explicam os remanescentes de florestas que sobreviveram até os dias atuais. “Nós acreditamos que, se não fosse pela erva-mate, muita floresta não estaria mais de pé”, explica André Eduardo Biscaia, também da Embrapa Florestas.

Ilustração: Patrícia Yamamoto

CULTIVO E COMERCIALIZAÇÃO

A comercialização se divide em duas categorias: a do cultivo sombreado e a do não sombreado. A primeira é associada ao manejo em florestas nativas ou sistemas agroflorestais, e a segunda é a monocultura tradicional. Segundo Biscaia, é possível perceber a diferença no sabor da erva-mate, sendo a de monocultura mais amarga. Para ele, há um grande mercado potencial para a erva de cultivo sombreado.

“O pequeno produtor deve investir em nichos, nas características que o diferenciam, porque se tentar competir com as grandes empresas, será engolido”, alerta o pesquisador. Produção familiar, orgânica, agroecológica e dentro de sistema agroflorestal são alguns dos diferenciais que podem atrair o público cada vez maior, tanto de consumidores quanto de investidores, interessados em produções socioambientalmente responsáveis.

Nessa linha, existem algumas iniciativas que tentam criar selos de Identificação Geográfica (IG) que reflitam a realidade da produção. Muitos agricultores não se reconhecem produtores de mate, preferindo focar em atividades mais convencionais como gado e leite, mesmo quando ela traz renda significativa para a família. Isso se deve, em parte, pelas ervateiras ficarem na parte “não produtiva” do sítio, de mata nativa, e em parte pela esporadicidade da colheita.

Para aumentar a frequência da colheita, que acontece a cada dois ou três anos, é preciso de mais assistência técnica, e mais pesquisa. “Existem algumas adaptações a serem feitas. A poda, por exemplo, é diferente para o cultivo sombreado e o não sombreado. Muito sol pode deixar a erva amarga, mas pouco sol prejudica o seu desenvolvimento”, explica.

“Estamos começando a produzir conteúdo sobre isso. Apesar da pesquisa sobre mate ser antiga, a maior parte era feita para o modelo de monocultura. Mas acredito que a produção na floresta ainda tem muito a oferecer”, diz.

Ele destaca ainda o potencial de transformar a erva-mate em outros produtos, além dos tradicionais chimarrão e tererê. Ela tostada é a base para o chá preto (como o da marca Mate Leão), e é possível fazer cosméticos, bebida energéticas, entre outros. Acesse o site CEDerva para acompanhar a produção de conteúdos sobre o cultivo na floresta.