Sobre os percalços do restauro florestal no Brasil

Sobre os percalços do restauro florestal no Brasil

Categoria(s): Arquivo

Publicado em 01/02/2019

Texto: Daniel Miyazato

E ntre os dias 21 e 23 de novembro de 2018, Belo Horizonte foi a capital brasileira do restauro florestal e da tecnologia de sementes. Lá aconteceu a II Conferência Brasileira de Restauração Ecológica e o X Simpósio Brasileiro sobre Tecnologia de Sementes Florestais. Durante três dias, mais de 30 mesas apresentaram rabalhos tendo como tema central o ganho de escala no restauro ambiental no país.

Um dos grandes entraves para a recuperação das áreas verdes do Brasil é a captação de recursos. Para contribuir nesse debate, a Iniciativa Verde apresentou o trabalho “Experiências de financiamento da restauração por compensações ambientais”.

A organização tem experiência em três formas de captação. “Tivemos um projeto junto ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), de financiamento com recursos não reembolsáveis para recuperação de mata ciliar, e temos as compensações obrigatórias do Programa Nascentes e as voluntárias do Carbon Free”, relata o diretor técnico Lucas Pereira.

A ONG também apresentou um vídeo sobre o programa Carbon Free Amazônia, que trabalha com implantação de Sistemas Agroflorestais (SAFs) em assentamentos rurais do Pará. “Trabalhamos com o IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), que tem uma relação forte com as pessoas locais, fator muito importante, já que, na ponta, a restauração atinge os proprietários rurais”, comenta Pereira.

Os SAFs, que combinam espécies de árvores com espécies produtivas, foram amplamente lembrados durante o evento, vistos como um importante aliado no ganho de escala. Algo que Pedro Barral e Ana Beatriz Tukada, biólogo e engenheira do setor florestal da Iniciativa Verde, também perceberam nas mesas de debate - uma ênfase maior nas questões sociais.

“Começamos a falar das pessoas na restauração, e não só tratar de métricas biológicas”, exalta Barral. “Todo mundo sabe que precisamos ganhar escala. Temos muito cientistas muitos bons para isso, professores muito bons, mas, se os proprietários não colaborarem, não adianta nada”, complementa Tukada.

Ainda neste sentido, a engenheira florestal defende que é preciso mostrar aos proprietários rurais como as reservas legais podem ser economicamente vantajosas. “Fala-se muito em reduzir custo, mas já podemos falar sobre gerar lucro”, constata.

Quanto ao tema principal da Conferência, Barral recorda que, por muito tempo, perdurou a ideia de que redução de custos gera ganho de escala. Isso torna mais difícil levar a restauração para áreas mais custosas. Lá, ele percebeu que, assim como a Iniciativa, mais pessoas estão deixando de ver esse custo como justificativa para negligenciar áreas prioritárias para o reflorestamento, o que ele considera um avanço. Porém, tanto Barral quanto Tukada lamentam a pouca presença de proprietários rurais nos eventos.

Roberto Resende, presidente da Iniciativa Verde, ameniza esta ausência de agricultores, visto se tratar apenas da segunda edição da Conferência. Ele destaca que a SOBRE (Sociedade Brasileira de Restauração Ecológica, realizadora do evento) é, dentre as associações acadêmicas, uma das que mais tenta dialogar com a sociedade. Mas também reconhece: “é preciso aumentar a presença de agricultores, seja grande pequeno, médio, tradicional. É interessante perceber uma visão geral de que isso é importante”, afirma Resende.

O presidente avalia ainda que houve discussões positivas a respeito de políticas públicas para incentivar a restauração. Desde a conversão de multas até os reflorestamentos obrigatórios, como é o caso do Programa Nascentes no estado de São Paulo.