A escassez de água também está atrelada à falta de árvores. Esta relação se dá, principalmente, em locais de florestas tropicais como a Mata Atlântica. Coincidência – na verdade, não – as maiores cidades brasileiras como São Paulo estão localizadas nesse bioma. Assim, elas dependem das florestas para abastecer os seus mananciais e, claro, seus habitantes. Você sabe qual a relação das florestas com a água que sai da torneira?
Segundo um estudo da empresa de geoprocessamento Arcplan em parceria com a Fundação SOS Mata Atlântica, 76,5% dos 5.082 km de rios que formam o Sistema Cantareira estão sem cobertura vegetal. Sem mata ciliar não há como proteger os rios. O mínimo esperado para que a água seja preservada é cumprir o Código Florestal.
Se todas as Áreas de Preservação Permanente (APPs) dentro do Sistema Cantareira estivessem conservadas (seja com floresta primária, que ainda está livre da intervenção humana, ou recuperadas por meio do plantio de árvores nativas), a crise hídrica que atingiu o Sudeste teria sido menos crítica. Claro que essa preservação deve estar atrelada a medidas de racionalização do consumo; de educação ambiental; tornar a gestão e distribuição mais eficientes. Apenas culpar São Pedro é pouco.
Mesmo porque a Estação Meteorológica (EM) do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da Universidade de São Paulo (USP) desde 1932 mede a precipitação (quantidade de água que cai do céu) na Região Metropolitana de São Paulo. O ano de 2014 foi o 13º período chuvoso (outubro a março) mais seco desde 1932 até o ano – o que acabou afetando o crítico ano de 2015. O ano mais seco (no período chuvoso) desde que começaram as medições foi o de 1941. Essa seca é uma variabilidade natural do clima. Assim, a gestão da água deve prever prevenção a esse tipo de condição climática.
Como o solo nessa situação permanece mais seco, a umidade leva mais tempo para voltar às condições médias, mesmo com um aguaceiro caindo sobre a represa. Por isso, o volume de água das represas demora a subir. Ou seja, as florestas contribuem para regular a vazão das águas, pois seguram o excesso de água das chuvas, liberando essa água aos poucos para os rios, represas e nascentes (mantendo-os sempre com água, no caso da Mata Atlântica).
A vegetação também contribui para a manutenção da qualidade das águas filtrando diversos sedimentos (evitando o assoreamento) e poluentes. As árvores nativas também protegem a biodiversidade. Por fim, um efeito global é absorver carbono e colaborar com a regulação do clima do planeta, diminuindo os efeitos negativos da mudança do clima como os eventos extremos (excesso de seca onde antes não havia este problema, por exemplo).
Para dar opção para quem quer ajudar a combater a crise da água, a Iniciativa Verde lançou um crowdfunding - clique aqui para ver a campanha. O objetivo é plantar 3.334 árvores nativas de Mata Atlântica, o que equivale a três campos de futebol, na cidade de Extrema (Minas Gerais), em parceria com a prefeitura. Esta será a primeira vez que pessoas físicas financiarão o plantio de mudas de árvores nativas na cidade conhecida pelo seu trabalho de recuperação e de conservação das florestas e das águas. O Programa Conservador das Águas, criado pelo município, é mundialmente reconhecido pelo seu pioneirismo, especialmente, por remunerar os agricultores que protegem os recursos naturais.
Se você está lendo este texto no celular em um ônibus percorrendo uma das maiores vias de São Paulo, por exemplo como a Avenida 23 de Maio, saiba que aí havia um rio. Neste caso, o rio Itororó. Na área urbana, já há a degradação de quase todos os corpos de água que cortam as cidades. Quem foi ao Itororó beber água, mas não achou, pode começar a recuperar a água do campo, impactando diretamente daquela que sai pela torneira. Juntos somos uma floresta.
Legenda da foto: A represa localizada dentro da Fazenda São João, em São Carlos (SP), estava cheia mesmo no seco mês de julho. Em volta da represa, a Iniciativa Verde plantou 15.328 árvores nativas com a parceria de empresas