O mito do Carbono Zero – Acervo: 29/09/2008

O mito do Carbono Zero – Acervo: 29/09/2008

Categoria(s): Arquivo

Publicado em 27/02/2014

O mito do carbono zero.

Publicado em 28.09.2008 no Jornal do Comércio.

A denominação carbono neutro, para designar preocupação ambiental, está mais difundida do que nunca. No entanto, pode não passar de propaganda.

Angela Fernanda Belfort.

Produtos, empresas e até eventos fazem questão de divulgar que são carbono neutro ou carbono zero. Essa denominação se enquadra para aqueles que encontraram uma maneira de neutralizar todas as emissões de carbono, que são feitas quando se produz qualquer coisa – desde um carro até um seminário. As emissões dos gases que contribuem para o efeito estufa, como o carbono, são feitas quando, por exemplo, se queima combustível fóssil. Nessa neutralização, são implantadas ações que reduzem o efeito dessas emissões. O nome carbono neutro está em tantos lugares, mas não existe qualquer órgão público federal ou estadual monitorando se essas iniciativas resultam, de fato, na compensação do que está sendo divulgado.

“Várias dessas empresas fazem do carbono zero uma estratégia de marketing e não se preocupam em comprovar se realmente está ocorrendo a compensação dos gases que elas produziram”, comenta o consultor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Projetos, Leonardo Ciuffo Duarte. A compensação mais comum que está sendo feita por Organizações Não-Governamentais (ONGs), Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscips) e consultorias é o plantio de árvores, como forma de compensar a quantidade de carbono ou de gases que provocam o efeito estufa que foram emitidos para a atmosfera. No seu crescimento, as árvores retiram o carbono da atmosfera.

Em São Paulo, já existem pelo menos 10 consultorias que calculam quanto de carbono o plantio de árvores pode sequestrar da atmosfera. “No nosso cálculo, sabemos que uma árvore da Mata Atlântica cresce por 37 anos e durante esse período ela vai sequestrar 190 quilos de gás carbônico. Mas há projetos que dizem que apenas uma árvore absorve de 400 quilos a 1.000 quilos (uma tonelada) de carbono por ano”, disse o diretor de comunicação da Iniciativa Verde, David Dieguez, acrescentando que tem empresas que fazem a compensação de forma correta e “outras não tão corretas”. A Iniciativa Verde é uma Oscip que faz projetos de restauro florestal.

“Defendemos que a secretaria do Meio Ambiente de São Paulo deveria publicar um manual de boas práticas em relação aos programas de compensação de emissões, porque isso iria orientar as empresas que atuam no setor e também a população para acompanhar esses projetos”, comentou Dieguez.

O próprio ministério da Ciência e Tecnologia admite que este é um mercado voluntário e que não há qualquer regulação. “Falta certificação que comprove que está ocorrendo essa compensação do carbono”, comentou o consultor da FGV Projetos. A sugestão dele é que as empresas que fazem esse tipo de iniciativa deveriam utilizar uma metodologia parecida com aquela que é utilizada para que as empresas vendam crédito de carbono. Nesse caso, elas obedecem cálculos que são os mesmos em qualquer lugar do planeta, com variáveis definidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) e também passam por certificações feitas por auditorias internacionais.

A maioria dos executivos e diretores que trabalham nessa área dizem que as empresas estão aderindo ao carbono neutro principalmente por uma questão de estratégia de marketing, que é interessante para as companhias. A natureza agradece pelo plantio das árvores, mas é difícil ter certeza que as empresas estão neutralizando, realmente, todas as suas emissões.