Lua em Sagitário leva ao cinema romance jovem e questão agrária

Lua em Sagitário leva ao cinema romance jovem e questão agrária

Categoria(s): Arquivo

Publicado em 14/02/2017

Surgido da vontade de fazer um filme para o público jovem que abordasse a questão agrária, o longa Lua em Sagitário, em cartaz em São Paulo e no Rio de Janeiro, traz temas reincidentes nos projetos da diretora Marcia Paraiso: a disputa pela terra e o preconceito como elementos resultantes da intensa luta de classes que atravessa a história do Brasil.

Dessa vez, no entanto, o trabalho, selecionado para o Prêmio Estreia Mundial do Festival de Avanca, em Portugal, no fim do julho, chega com uma diferença importante. Se antes Marcia utilizava fundamentalmente a abordagem documental, agora ela transpõe barreiras estéticas e salta para a ficção, num movimento que a própria autora classifica como de ruptura, em busca de superar as muitas restrições ao alcance do gênero documentário e tratar o preconceito contra os jovens que não vivem nos grandes centros urbanos pelas lentes da ficção. É nesse contexto que a trama se desenvolve, tendo como eixos as rotinas de dois jovens que passam longe dos padrões veiculados pela mídia de massas.

Ana (Manuela Campagna) é uma garota que vive em Princesa, uma cidade de cinco mil habitantes no interior de Santa Catarina. Filha única de família tradicional, ela não se identifica com os hábitos da sociedade local, o que a faz ter poucos amigos e sonhar com experiências em terras distantes, como a ida a um festival de rock em Florianópolis. O outro protagonista é Murilo (Fagundes Emanuel, o Mosca da novela Geração Brasil), um rapaz nascido e formado no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e que mora num assentamento em Dionísio Cerqueira, divisa com a Argentina.

Na trama figuram ainda as participações de Elke Maravilha e do veterano roqueiro Sergei, que, segundo a diretora do filme, são “eles mesmos” e evidenciam o que ela chama de “ruptura geral dentro da história”. “É uma situação insólita, pode ter acontecido, pode não ter acontecido”, brinca a diretora.

Além deles, a atriz catarinense Andrea Buzato, premiada no Festival de Gramado, tem papel de destaque como a mãe da protagonista Ana. Lua conta ainda com a participação da atriz baiana Ana Cecília Costa, a Gaia da novela Jóia Rara, do ator maranhense Antônio Sabóia, que esteve no elenco da novela Amor à Vida, e do ator catarinense Chico Caprario.

Lua em Sagitário é um longa de ficção em coprodução com a produtora Argentina Salta una Rana e o Canal Brasil. Foi o primeiro projeto audiovisual de Santa Catarina a ganhar o prêmio Ibermedia, programa de estímulo à produção de filmes ibero-americanos e teve apoio da Ancine/Fundo Setorial do Audiovisual. Além do elenco, o filme contou com um equipe técnica de 26 pessoas, considerada reduzida para um longa-metragem. O orçamento total foi de R$1.2 milhões.

Meio ambiente
Lua em Sagitário foi realizado com a preocupação de reduzir impactos ao meio ambiente. O filme compensou o uso do carbono gasto com deslocamento de equipe (terrestre e aéreo) e gastos com eletricidade com o plantio de mudas de árvores nativas da Mata Atlântica por meio do Programa Carbon Free, da Iniciativa Verde. Além disso, durante as gravações evitou-se o uso de material descartável, reduzindo a produção de lixo. Canecas individuais foram fornecidas pela Ewel Esmaltados, empresa parceira do projeto em Santa Catarina. Com as canecas personalizadas com o nome de cada um – equipe técnica e elenco – reduziu-se também o gasto com água.

Contra o preconceito
Justamente por uma linha que expõe diferenças, desde as divisões socioeconômicas, passando por conflitos geracionais, até a oposição entre o racionalismo de Ana e o gosto por astrologia de Murilo (o que inspirou o nome do filme), é que Lua em Sagitário traça um percurso de referências e discursos políticos contra o preconceito, mas sem perder de vista o frescor de uma linguagem jovem. A narrativa cresce com a evolução da temática da questão agrária como pano de fundo para diversas cenas que envolvem os jovens, mas sem cair na armadilha de produzir uma fala verticalizada que pretenda impor verdades definitivas.

Essa posição, em essência, vai ao encontro da expectativa da diretora Marcia Paraiso, que explica que a mensagem central do filme passa por uma espécie de desierarquização das relações. “O jovem não necessariamente precisa pensar igual ao pai, igual ao avô. Tinha um tempo em que isso era muito forte. Era muito difícil de formar o pensamento crítico próprio. Hoje, você tem mais acesso a informação. Eu gostaria que o filme tocasse as pessoas, esse público jovem", diz a diretora.

Sobre a diretora
Marcia Paraiso é diretora e roteirista, e trabalha com audiovisual desde 1993, tendo atuado em várias frentes. Sócia da produtora Plural Filmes – com sede no Rio e em Florianópolis, dirigiu documentários para a RBS TV e TV Brasil, e trabalhou como professora no curso de cinema da Universidade do Sul de Santa Catarina e Universidade Federal de Santa Catarina. Seu primeiro filme foi o curta metragem ficção Livre – 35mm – 1996. Se dedicou ao formato documental, especificamente às questões sociais, ambientais e culturais.

Também dirigiu “Visceral Brasil – as veias abertas da música”, série de 13 episódios para a TV Brasil – Prodav – FSA. A ideia de “Lua em Sagitário”, seu primeiro longa de ficcão, surgiu a partir das várias viagens pelo Brasil profundo e seus personagens reais, instigantes e inspiradores e também do constante diálogo e proximidade com jovens das mais distintas classes sociais e regiões brasileiras, que fogem de um padrão reproduzido pela mídia como representação dos jovens do Brasil. Atualmente, Marcia está envolvida em outros dois projetos. O longa documentário Bravos Valentes, sobre os vaqueiros brasileiros, em coprodução com a Globo News, projeto que mergulha no universo dos vaqueiros do Marajó (Pará), Sertão (Bahia e Pernambuco), Rio Grande do Sul (Pampas gaúchos e fronteira com o Uruguai) e Pantanal. E a série "Invenções da Alma – arte popular brasileira", com 26 episódios documentais sobre artistas populares brasileiros – naif, escultores, mamulengueiros e gravuristas.

A Plural Filmes
A Plural Filmes foi criada em 1994 e possui hoje 2 sedes, uma no Rio de Janeiro e uma em Florianópolis. Dentre os projetos culturais de importância, a Plural Filmes realizou curtas- metragem, documentários, co-produções internacionais e vídeos educativos em parceria com instituições de formação e canais de TV, sempre com a proposta do olhar inovador e curioso sobre as questões sociais, culturais e ambientais inerentes à pluralidade brasileira.

Realizou na região do Vale do Contestado – Santa Catarina – o documentário investigativo de média metragem “Terra Cabocla”, e a série para a TV Brasil – FSA – Ancine – “Visceral Brasil, as veias abertas da música”. O lançamento do longa-metragem de ficção “Lua em Sagitário” no segundo semestre de 2016 vem na esteira de outros projetos em andamento: o longa documentário Bravos Valentes, sobre os vaqueiros brasileiros, em coprodução com a Globo News e a série "Invenções da Alma – arte popular brasileira", com 26 episódios documentais sobre artistas populares brasileiros. Saiba mais: http://www.pluralfilmes.com.br/

Ficha técnica
Roteiro: Will Martins e Marcia Paraiso
Direção: Marcia Paraiso
Direção de Produção: Juliana Kroeger
Produção Executiva: Ralf Tambke (Brasil) Saula Benavente (Argentina)
Direção de Foto: Ralf Tambke (unidade 1) - Anderson Capuano (unidade 2)
Direção de Arte: Loli Menezes
Maquiagem e Cabelos: Fernanda Cacivio
Desenho de Som: Lucas Larriera
Montagem: Glauco Broering
Direção Musical: Ju Baratieri
Interferências Gráficas: Marcelo Buti
Foto Still: Silvio Marchetto