Ipê tem gosto de quê?

Ipê tem gosto de quê?

Categoria(s): Arquivo

Publicado em 29/01/2019

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Texto e ilustração: Daniel Miyazato | Foto: Ana Beatriz Tukada

O Brasil só é Brasil, por causa do pau-brasil. Mas isso todo mundo sabe. A planta de madeira avermelhada feito brasa, a melhor para a confecção de arcos de violino, foi declarada Árvore Nacional pela lei nº 6.607, de 7 de dezembro de 1978. Já a Flor Nacional é de uma árvore nativa não menos emblemática. De acordo com o agrônomo Harri Lorenzi, a flor do ipê-amarelo está no roll de nossos símbolos por decreto. Informações descreditadas apontam Jânio Quadros como autor da condecoração, mas os arquivos do Congresso não negam, tampouco confirmam.

Fato é, trata-se de uma flor lindíssima. Beleza, essa, responsável pela frequência com que se encontram as diversas espécies de ipê por todo o Brasil. Com uma paleta de cores que vai do amarelo vivo até o branco, passando pelo roxo e verde, as espécies são da família Bignoniaceae, a mesma dos jacarandás. Além do aspecto ornamental, as árvores são de uma madeira ótima para a construção civil e naval assim como para a carpintaria, alcançando alto valor de mercado.

De crescimento lento e com pouca cobertura de copa, os ipês são consideradas espécies de diversidade nos processos de reflorestamento, uma vez que, gradualmente, substituem espécies pioneiras, que crescem mais rápido.

E, para além da madeira e do visual, o ipê tem uma outra faceta, bem saborosa. A flor destas árvores é uma das plantas alimentícias não convencionais, as chamadas Pancs. Classificação que se refere a vegetais comestíveis, mas que normalmente não são produzidos e comercializados em escala.

Segundo o professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP) Flávio Bertin Gandara Mendes, a importância cultural das Pancs está no fato de muitas delas serem tradicionais de diversas regiões do país. É o caso da taioba e da ora-pro-nobis. No entanto, Mendes lamenta as mudanças de hábito alimentar que tem levado estes alimentos ao esquecimento. Além disso, o pesquisador ressalta que muitas delas trazem mais benefícios à saúde em comparação com plantas convencionais.

O professor da Esalq defende mais pesquisas sobre o tema, assim como uma divulgação maior das Pancs. Ele vê potencial econômico nelas, por serem de fácil cultivo. “Muitas são nativas ou se adaptaram bem ao nosso ambiente, então não dependem tanto de agrotóxicos”, explica.

Sobre as flores das várias espécies de ipê, Mendes afirma que são todas comestíveis e têm um sabor parecido. Quanto a segurança de colher pancs em ambientes urbanos, o estudioso diz que é esperado um certo nível de contaminação tanto pelo ar quanto no solo, principalmente por causa da poluição. “No entanto, para que a planta deixe ser própria para consumo, a contaminação teria de ser muito intensa. Digamos, se a planta crescer perto de um lixão, não é para comê-la. Mas em parques urbanos, de maneira geral, pode sim”, tranquiliza Mendes. É só ter o cuidado de limpá-las.

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Receita de flores de
ipê-amarelo salteadas:

Colha e lave as flores do ipê-amarelo.
Refogue um pouco de alho no azeite. Acrescente as flores e tempere a gosto.
Você pode acrescentar legumes também. Sirva quente.


Fonte: Blog Aorta