O município de Garça, na região de Marília (400 quilômetros da capital paulista), é um bom exemplo de cidade que tem conseguido sair praticamente incólume da séria crise hídrica pelo qual vem passando diversos estados do Sudeste brasileiro, muito evidenciada e noticiada no estado de São Paulo.
Entre as principais razões para o sucesso no enfrentamento desse problema foi o trabalho iniciado há mais de dez anos pelo Serviço da Águas e Esgoto da cidade e pela Associação dos Produtores Rurais da Região do Alto Aguapeí e Peixe para recuperar a mata ciliar dos principais mananciais de água da cidade. Nos últimos anos, contaram com diversas parcerias sendo a mais recente com a Iniciativa Verde, por meio do apoio do Programa Iniciativa BNDES Mata Atlântica do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Ela possibilitou a recuperação de quase 100 hectares de árvores de mata nativa na região ou cerca de 150 mil árvores.
Nesse cenário de escassez, de má distribuição de chuvas e de má gestão dos recursos hídricos que tem assolado de maneira dramática a maior parte das cidades do estado de São Paulo, Garça representa um verdadeiro oásis em relação, por exemplo, a vizinhos próximos como Marília e Bauru que já tiveram problemas de abastecimento. O que penalizou suas populações. Em 2014, Garça não enfrentou sequer um dia de racionamento ou falta de água!!
Para o engenheiro agrônomo Ulysses Bottino Peres, representante do Conselho Regional de Engenharia na Região e ex-gerente de Meio Ambiente do Serviço Autônomo de Água e Esgoto do Município, o trabalho da Associação de Produtores rurais, iniciado em 2002 e hoje é apoiado pela Iniciativa Verde e pelo Programa Iniciativa BNDES Mata Atlântica, é de suma importância para o resultado. “É um trabalho a longo prazo e precisamos continuar, tendo em vista que já é possível prever novas áreas de escassez de água. Os trabalhos têm de ser permanentes e não podem parar”, afirma Ulysses.
Além da agricultura, Garça possui um parque industrial importante que necessita de água para manter a produção. Um dos principais fornecedores de água para a cidade é o Córrego do Barreiro. “Estamos na cabeceira, onde a vazão é pequena, limitada. Se não tivermos água, não tem desenvolvimento socioeconômico na cidade. O comércio e as empresas utilizam água no processo de trabalho. Se elas pararem a produção, o que se terá é o desemprego. A cidade não desenvolve”, salienta o engenheiro.
“No ano passado, a Iniciativa Verde atingiu a marca de um milhão de árvores plantadas, mas os trabalhos continuam. É preciso mobilizar a sociedade como um todo, além de formadores de opinião, da indústria e do comércio. Todos são importantes”, explicou Lucas Pereira, diretor técnico da Iniciativa Verde.
Segundo ele, até aqui o apoio do BNDES tem sido fundamental para a realização desse trabalho e espera-se que esse apoio continue para que seja possível conquistar novos objetivos que garantam água de boa qualidade para a população da região. Pereira também acredita que é necessária a adesão e maior empenho de empresas, indústrias e do poder público. “É preciso que haja essa sensibilização, que os empresários tenham consciência e entendam de fato a importância do trabalho. É uma responsabilidade de todos”, afirmou Pereira.
Para o engenheiro agrônomo Edgard Marino, responsável técnico da Associação, “plantar árvores é a principal ferramenta para a associação atingir o seu objetivo, que é garantir a produção de água em quantidade e qualidade nas cabeceiras dos rios Aguapeí e Peixe”. E, completou, “sem dúvida, a parceira entre a Associação, a Iniciativa Verde e o programa Iniciativa BNDES Mata Atlântica tem sido fundamental para que possamos atingir nossos objetivos”.
Somente em Garça, técnicos da Associação de Produtores Rurais do Alto Aguapeí e Peixe já constataram a necessidade de recuperar cerca de 400 hectares que ainda precisam de reflorestamento, mas para isso será preciso garantir novas fontes de financiamento.