Entidades identificam áreas de risco e elaboram plano de ação para o enfrentamento das mudanças climáticas em Iguape e região

Entidades identificam áreas de risco e elaboram plano de ação para o enfrentamento das mudanças climáticas em Iguape e região

Categoria(s): Arquivo

Publicado em 28/04/2014

A Praia do Leste, em Iguape, sofre com erosãoO evento “Encontro: Mudanças Climáticas e o Litoral de SP” realizado nos dias 2 e 3 de abril, em Iguape, Litoral Sul de São Paulo, contou com ampla e representativa participação da sociedade civil e de órgãos públicos com atuação na região e interessados no tema das vulnerabilidades ambientais e mudanças climáticas. Lideranças locais, representantes de prefeituras, representantes de ONGs, estudantes de ensino técnico, agentes vinculados ao planejamento e gestão territorial e de fomento às políticas públicas, especialistas no tema das mudanças climáticas e no entendimento dos processos e dinâmicas que interferem sobre algumas das vulnerabilidades encontradas na região Estuarino Lagunar de Iguape-Cananéia-Paranaguá, em seu trecho paulista, o Litoral Sul, participaram das atividades (na foto ao lado, a Praia do Leste, em Iguape, que sofre com erosão).

O encontro fez parte do Projeto Mudanças Climáticas e o Futuro das Comunidades do Litoral Sul Paulista desenvolvido pela Iniciativa Verde, com a parceria do Instituto HSBC Solidariedade. O objetivo geral do projeto é apoiar as comunidades da região na tomada de decisão para a elaboração do Plano Participativo de Adaptação às Mudanças Climáticas, previsto na Lei Estadual nº 13.798/2009. Por isso, as discussões tiveram como tema principal o apoio para conseguirem enfrentar a difícil realidade de agravamento dos efeitos resultantes do aquecimento global e o consequente aumento dos níveis do mar e dos fenômenos climáticos extremos. Tais mudanças colocam em risco a população e seus meios tradicionais de moradia e subsistência.

Dessa forma, o evento buscou identificar as maiores vulnerabilidades (como erosão na costa e danos aos manguezais) e as propostas de medidas que deverão ser tomadas (como fortalecimento dos espaços de gestão com participação da sociedade) para enfrentar o problema. Suas conclusões vão contribuir para a elaboração do Plano de Adaptação às Mudanças Climáticas para o Lagamar que já está em discussão pelo Grupo Setorial de Coordenação do Gerenciamento Costeiro do Complexo Estuarino-Lagunar de Iguape e Cananéia.

No dia 2, Marília Cunha Lignon do Instituto Bioma Brasil e Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) ministrou a Palestra “Monitoramento de Manguezais: Os guardiões das zonas costeiras”, comparação entre manguezais de Iguape e Cananéia, na sede do Instituto Florestal de Iguape. A especialista analisou o contexto dos manguezais no planeta e no Brasil (o país tem 7% do total do mangue do mundo) e, após destacar a importância do ecossistema de manguezais para a reprodução e a manutenção da vida marinha e da pesca, apontou a gravíssima situação dos manguezais em Iguape devido a expansão das macrófitas (plantas aquáticas) no Mar Pequeno (que sofre com dessalinização das águas). Segundo ela, a formação de ilhas de macrófitas que seguem pelo canal até Cananéia tem ocasionado a destruição dos manguezais e até mesmo causado acidentes com embarcações. Ela também destacou que, já em Cananéia, a situação é bem diferente e os manguezais de lá estão saudáveis e sofrem poucas ameaças.

Em seguida, Celia Regina Gouveia de Souza do Instituto Geológico da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo e professora visitante da Faculdade de Geografia da Universidade de São Paulo (USP) ministrou sobre os crescentes processos de erosão e sedimentação na região Estuarino Lagunar entre Iguape, Cananéia e Ilha Comprida. Ela apresentou um Mapa de Vulnerabilidades relacionado a esses processos erosivos com destaque para as localidades mais vulneráveis no Estuário como, por exemplo, a Praia do Leste, em Iguape. Como demonstrado anteriormente por Marília. A professora Celia também destacou que o processo de dessalinização e expansão de macrófitas associado ao assoreamento do canal (Mar Pequeno) é um dos principais fatores de risco que dificulta o fluxo de marés em toda a área e potencializa os processos de erosão e sedimentação e que modificaram/modificam feições de relevo.

Em seguida, os representantes de entidades e convidados (foto acima) que compareceram às apresentações da manhã constataram in loco os possíveis resultados das mudanças climáticas e da ação humana direta na degradação do meio ambiente. Foram visitados diversos pontos em Iguape e Ilha Comprida que sofrem com transformações no meio ambiente e prejudicam os moradores e as espécies que habitam a região. Segundo o presidente da Iniciativa Verde, Roberto Resende, “o evento reuniu um grupo bastante qualificado e representativo de vários setores da região abrangidos pelo projeto. Destaca-se aí a participação da Escola Técnica de Iguape como uma oportunidade de envolvimento de professores e alunos com a questão das mudanças climáticas”.


Debate sobre o clima
Durante a noite, o Auditório da Escola Técnica Estadual (ETEC) Engenheiro Agrônomo Narciso de Medeiros ficou lotado para o debate que reuniu, além das especialistas Celia Marília, Humberto Ribeiro da Rocha (imagem ao lado), o professor titular do Departamento de Ciências Atmosféricas do Instituto Astronômico e Geofísico (IAG/USP). Ele falou sobre mudanças climáticas. Antes, foi exibido o vídeo da Iniciativa Verde, “Tempo Caiçara”. O presidente da organização Roberto Resende, também aproveitou para apresentar o projeto “Mudanças Climáticas e o Futuro das Comunidades do Litoral Sul Paulista” para os alunos e liderenças presentes.

Como o local estava ocupado por muitos estudantes jovens de diversos cursos da ETEC, Humberto foi bastante didático ao falar sobre os principais problemas que envolvem as mudanças climáticas (como, por exemplo, aumento do nível do mar na região e de eventos climáticos extremos como inundações). Ele ressaltou que já não faltam informações sobre as mudanças climáticas e, agora, a questão é agir para evitar danos. Para o pesquisador, o que era para ser detectado já o foi, assim como a atribuição de causas às ações humanas. Mesmo as dramáticas projeções apontadas no último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês) não deixam dúvidas quanto à importância de se combater os efeitos do aquecimento global.

Durante todo o dia grupos de trabalho representados por entidades locais (imagem abaixo), pesquisadores e poder público foram organizados para discutir os diversos riscos e vulnerabilidades da região. Primeiramente, os participantes foram chamados a buscar responder a questões como: quais as vulnerabilidades existentes no lagamar (contemplando os municípios de Iguape, Ilha Comprida e Cananéia); quais as atividades humanas e as áreas mais atingidas pelo efeito das mudanças climáticas na área costeira; quais estratégias de prevenção e adaptação precisamos fazer; e quais estamos dispostos a fazer (na foto ao lado, da esquerda para a direita: Celia, Humberto, Roberto e Marília).

As atividades resultaram em um sociograma que refletiu o conhecimento e a vivência dos participantes com os municípios da área do projeto e com as áreas que apresentam riscos, existentes e potenciais, e a identificação das áreas com maior vulnerabilidade (como algumas mais próximas ao mar) que requerem medidas de mitigação e adaptação necessárias e viáveis para fazer frente às mudanças climáticas.
Após as palestras e os debates, foram criadas as condições para a construção de um Plano de Adaptação para ser usado como documento de apoio à discussão do Plano Regional de Adaptação às Mudanças Climáticas. O documento poderá ser usado para consulta e como subsídio de políticas públicas de gerenciamento costeiro, planos de manejo de Unidades de Conservação e planos diretores.

Agora, a Iniciativa Verde está finalizando o Sistema de Informações Geográficas (SIG), um instrumento online para consulta e inserção de dados da região relacionados às mudanças climáticas. E, também, um modelo climático disponível online que mostrará quais áreas do Lagamar Paulista serão afetadas pelas mudanças climáticas de acordo com o aumento da temperatura terrestre. Este modelo já foi apresentado para os participantes presentes no evento e está em sua fase final. Em breve, a Iniciativa Verde com a parceria do Instituto HSBC Solidariedade lançará uma cartilha sobre o tema que será distribuída na região e disponibilizada online no site da organização.

Veja a galeria com fotos do evento.
 

Fotos: Lucio Moura Júnior