Empresas brasileiras abraçam a recuperação florestal

Empresas brasileiras abraçam a recuperação florestal

Categoria(s): Arquivo

Publicado em 09/03/2015

O mercado de carbono oficialmente começou a operar em 2005, assim que o Protocolo de Quioto foi ratificado. No mesmo ano a Iniciativa Verde foi fundada, durante a COP-11, no Canadá, onde os seus fundadores estavam presentes para apresentar a instituição ao público. Porém, podemos dizer que o evento mais significativo foi a COP-9, realizada em Milão, Itália, com relação aos cuidados com as florestas. Lá foram definidas as regras para a inclusão das atividades de reflorestamento no protocolo, criando um mecanismo que viabilizou de maneira definitiva a entrada do setor de recuperação florestal em um amplo âmbito internacional.

A abertura de um mecanismo de mercado que viabilizasse a recomposição florestal em um acordo internacional da envergadura do Protocolo de Quioto gerou enormes expectativas. Imediatamente, vislumbramos a possibilidade de recuperar enormes áreas dentro do bioma da Mata Atlântica por meio de financiamento externo via protocolo. Como a Mata Atlântica já se encontrava com taxas de desmatamento bastante reduzidas, isso sinalizava a possibilidade de reversão de séculos de desmatamento.

Mas as expectativas logo foram frustradas. Com a não ratificação do protocolo pelos Estados Unidos, a União Europeia (UE) passou a ser o principal comprador de créditos de carbono. Entretanto, a UE sinalizou que não compraria créditos oriundos de projetos florestais e que focaria os seus esforços em projetos de energias renováveis. Aliado a isso, os enormes custos transacionais também contribuíram para o cenário bastante tímido que se apresentou nos anos seguintes: simplesmente, era inviável recuperar florestas com o recurso oriundo dos créditos florestais.

De 2005 até o início de 2009, apenas um projeto nesse âmbito foi aprovado na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC). Em 2009, mais dez projetos e, em 2010, sete. Hoje, quase 12 anos depois da COP de Milão, de um total de 7.561 projetos aprovados, apenas 55 são florestais. Isto é, menos de 1%.

A luz no fim do túnel veio do Programa Carbon Free. Baseado em recomposição da Mata Atlântica, conseguiu um grande nível de adesão entre as empresas brasileiras, interessadas em compensar as emissões de suas operações, eventos e produtos. Mesmo com o investimento necessário no Programa Carbon Free sendo significativamente maior do que uma compensação por compra de créditos de outras modalidades, várias empresas decidiram apostar na recuperação florestal.

E o resultado desses anos de trabalho e reconhecimento atingiu uma marca memorável em 2014: ultrapassamos o total de um milhão de árvores plantadas desde 2005, o que representa 600 hectares de matas recuperadas. Muitas delas, dentro de propriedades da agricultura familiar e também relevantes para a conservação da biodiversidade, gerando renda no meio rural e mudando o comportamento de pessoas e de empresas.

No âmbito da mitigação global do clima, esse resultado é tímido. Mas quando olhamos para a contribuição na conservação dos serviços ambientais, da biodiversidade, dos recursos hídricos e da geração de renda no campo constatamos que fomos muito além do que jamais sonháramos.