Documentário Terra Cabocla recebe certificado Carbon Free

Documentário Terra Cabocla recebe certificado Carbon Free

Categoria(s): Arquivo

Publicado em 15/04/2015

O documentário Terra Cabocla, lançado em março deste ano, rebeu o certificado Carbon Free por ter suas emissões de carbono compensadas com a Iniciativa Verde. O longa de 82 minutos apresenta a Guerra do Contestado dando visibilidade à população cabocla. A voz, os costumes, a cultura, a religiosidade dos caboclos – e, especialmente, das mulheres caboclas – montadas paralelamente com depoimentos de pesquisadores que têm se dedicado à temática do Contestado, revelam o quanto o tema é pouco compreendido e discutido. Uma opção política de silenciamento que se manteve até os dias atuais. Ele foi dirigido por Marcia Paraiso e Ralf Tambke que assinam também pesquisa, roteiro e fotografia.

O Programa Carbon Free foi desenvolvido pela Iniciativa Verde para que as emissões de gases de Efeito Estufa (GEE) decorrentes de qualquer atividade humana como, por exemplo, as viagens realizadas para as gravações do documentário, sejam compensadas. Essas atividades emitem direta ou indiretamente uma quantidade de gases que podem agravar o aquecimento global. No Programa Carbon Free, a Iniciativa Verde faz o plantio de árvores nativas na Mata Atlântica compensando essas emissões.

O filme percorreu a região do Planalto Catarinense buscando registrar, nas antigas comunidades chamadas “redutos santos”, a raiz cabocla que se mantém viva a partir da força mobilizadora de algumas lideranças locais. A questão da luta pela terra, o preconceito e a forte desigualdade social que mantém a região com o menor índice de desenvolvimento humano no estado de Santa Catarina ainda é reflexo da guerra e do descaso do poder público. O predomínio da monocultura (pinus, eucalipto e maçã) com sua geração de subempregos e trabalhos temporários, as empresas estrangeiras, a ausência de boas estradas e o abandono total de todo patrimônio histórico relacionado ao Contestado (cemitérios, crematórios, ferrovia, construções) expõem a forma de apagamento de uma história de luta feroz por resistência.

Para Marcia Paraiso, a realização do documentário foi como mergulhar em uma história apagada, silenciada. “Estudei na escola na época da ditadura militar e, na cartilha de história, tínhamos um capítulo sobre a Guerra de Canudos e 1 parágrafo sobre a Guerra do Contestado. Ou seja, não entendi a guerra, nem mesmo superficialmente. Vim morar há 11 anos em Santa Catarina e nunca, jamais, tinha ouvido falar sobre o povo caboclo catarinense, mas abria os jornais, conversava com pessoas e o que chegava para mim era o tanto que esse estado é italiano, é alemão, é polaco, é branco, é europeu. Mas quando convivemos com as populações no campo, percebemos o quanto a cultura cabocla foi incorporada pelos imigrantes europeus e não ao contrário. E o quanto essa cultura resistiu, está viva, mesmo com todo o genocídio praticado contra esse povo”, desabafa. O Terra Cabocla é uma tentativa de dar visibilidade à cultura cabocla que está aí, mas não é visível para todos.