Presença de mulheres é marcante nos projetos da Iniciativa Verde

Presença de mulheres é marcante nos projetos da Iniciativa Verde

Categoria(s): Arquivo

Publicado em 14/05/2018

Um dos lugares em que desigualdade de gênero se manifesta é na divisão do trabalho entre homens e mulheres, e na desvalorização dos considerados femininos, como o cuidado da casa e a criação dos filhos. Isso é ruim pois concentra a renda em apenas algumas pessoas da família, deixando outras com menos autonomia, e a família com menos recursos.

Nos casos em que as mulheres trabalham fora, a maioria acaba tendo uma jornada dupla, uma dentro e outra fora de casa. Apesar dos níveis de desigualdade serem semelhantes no campo e na cidade, nas áreas rurais ela tem algumas especificidades. “É muito comum encontrarmos mulheres fazendo trabalhos que ninguém percebe, como cuidar da horta que leva os alimentos para a mesa, ou que não são considerados tão importantes, como a produção de pomadas, chás e a manipulação de ervas medicinais”, conta Gláucia Marques, da SOF - Sempreviva Organização Feminista.

Existe ainda uma diferença na maneira como homens e mulheres se relacionam com o meio ambiente. Geralmente, eles se interessam mais por atividades extensivas, como criação de gado, enquanto entre as mulheres há maior adesão a práticas agroecológicas e que preservam a natureza local. Mariana Oliveira, pesquisadora da WRI Bra-sil que tem trabalhado a questão de gênero no restauro ambiental, fala da importância de se atentar para essa disparidade. “Se nós basearmos a restauração somente pela perspectiva do homem, vamos deixar metade da população de fora e perder a oportunidade de uma nova forma de recuperação ambiental”, afirma.

NO CAMINHO DA EQUIDADE
A desigualdade, felizmente, tem diminuído. No meio rural, mulheres estão cada vez mais organizadas e presentes nos espaços de decisão. Mariana conta, por exemplo, que elas já são metade da força de trabalho na produção de mudas para restauração, e que chefiam uma em cada quatro famílias da zona rural. E, de acordo com a pesquisa “Hábitos do Produtor Rural”, 2016, da As-sociação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócios (ABMRA), a presença da mulher na gestão de empreendimentos rurais triplicou de 10% em 2012 para 31% em 2016.

É o caso do grupo produtivo “Esperança”, do qual Maria Izaldite Dias, 66, participa. Hoje são oito mulheres que se organizam para produzir alimentos orgânicos, cosméticos e remédios naturais, vendidos em redes de consumo consciente em São Paulo. Dona Izaldite mora há 26 anos no Vale do Ribeira, numa APA - Área de Proteção Ambiental de Barra do Turvo, e conta que a “mulherada” sempre teve vontade de plantar, mas que não havia mobilização.

“A gente sabe que tem muita mulher sofrendo dentro de casa, então eu sempre quis fazer alguma coisa, mas já estava cansada”, relata. Então, em 2015, a SOF chegou na região e começou a oferecer assistência para a organização das mulheres. “Elas perguntavam o que a gente tinha para oferecer e a gente dizia que não tinha nada. Aí perguntaram o que estávamos plantando, e vimos que tínhamos várias coisas”, lembra. E assim começaram a gerar renda para si mesmas.

A UNIÃO FAZ A FORÇA
A complementação de renda foi um dos motivos para a formação da Associação de Mulheres “Camonesas em Ação”, em 2014, no assentamento Bela Vista do Chibarro - Araraquara. Outro foi a depressão. “As mulheres não estavam saindo de casa, aí resolvemos nos juntar para fazer fuxico, esfriar a cabeça”, conta Aline Aparecida dos Santos, 27, uma das 14 assentadas associadas. Elas trabalham com agricultura, turismo rural e costura. “Começamos só com linha e agulha e agora já esta-mos com quatro máquinas”, relata feliz.

“É uma terapia ocupacional de grupo”, define Silvia leno Barbosa, 44, que também participa. Elas já perceberam melhoras na vida das mulheres, apesar da geração de renda ainda ser baixa. “Elas já não ficam mais isoladas, se unem e trocam ideias”, diz Silvia. Como falou a Dona Izaldite, “a gente tem que ser companheira uma da outra”.

 

Texto e imagens: Marina Vieira

Esta matéria foi publicada na Revista Iniciativa #1, disponível para download no site www.iniciativaverde.org.br/biblioteca-nossas-publicacoes