O mel das abelhas do Brasil

O mel das abelhas do Brasil

Categoria(s): Arquivo, Plantando Águas

Publicado em 24/01/2020

Texto e ilutrações Daniel Miyazato

Quando se pensa em abelhas, a imagem que vem a mente é a de insetos amarelos de listras pretas, voando ao redor de uma colmeia. Imagem típica das A. mellifera, abelhas europeias e africanizadas que dominam não apenas nosso imaginário, como também o mercado de mel e polinização. No entanto, este universo é muito mais abrangente, e inclui centenas de espécies nativas do Brasil, essenciais para a produção de alimentos e preservação ecológica.

Importância que se deve, principalmente, ao processo de polinização, isto é, de reprodução das plantas. As abelhas são líderes neste serviço ambiental. Segundo relatório de 2019 da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES), 48% das espécies de polinizadores relacionadas à produção de alimentos no Brasil são abelhas. O relatório estima, ainda, o valor do serviço prestado por polinizadores: R$43 bilhões anuais.

Além de garantir o crescimento do plantio, a troca de pólen favorece a diversidade genética das espécies, um fenômeno que gera seres mais resistentes a doenças e, no caso de frutíferas, frutos mais bonitos.

Os produtores agrícolas que incorporam a meliponicultura na produção comprovam essas teorias na prática. O termo de fazer enrolar a língua refere-se a criação de abelhas da tribo meliponini. O Brasil abriga mais de 400 espécies destes insetos. Suas principais características são a organização em sociedade, a produção de mel - em menor ou maior quantidade - e a ausência de ferrão.

O produtor Yoshiteru Sasada cultiva morangos na região de Piedade, interior de São Paulo. Ele atrai abelhas jataí (Tetragonisca angustula) para sua propriedade fazendo pequenos buracos em estruturas ocas da própria casa, além de ter uma caixa de meliponicultura. A polinização dos insetos, afirma o agricultor, favorece a produção de morangos mais suculentos e bonitos.

Entre os municípios de Limeira e Americana, também no estado de São Paulo, Luiz Carlos Espíndola Filho pratica agricultura orgânica. Berinjela, morango, laranja e jaca são algumas das culturas produzidas. Ele tem uma caixa de jataís e outra de mandaçaias (M. quadrifasciata) e faz coro sobre as vantagens da polinização destes insetos. Tanto que planeja trazer mais abelhas.

“Existem já alguns dados de que, em algumas culturas, há aumento na produção, e em outras, sem a visita da abelha, não há produção nenhuma de frutas”, aponta a especialista em abelhas Marilda Cortopasi-Laurino.

A pesquisadora aposentada da Universidade de São Paulo (USP) destaca a importância da biodiversidade das abelhas. Ela explica que, para a polinização acontecer, o potencial polinizador precisa ter características físicas e comportamentais compatíveis com as plantas visitadas. Laurino cita o exemplo do maracujá comercial, uma planta nativa brasileira que, apesar de receber a visita de abelhas Apis - as clássicas -, não é por elas polinizada. O tamanho delas não é sufi ciente para alcançar os órgãos sexuais das flores.

Por isso a importância das abelhas mamangavas. Também nativas do Brasil, estes insetos são da tribo Bombini, semi-sociais, e têm fama por polinizarem o maracujá, como explica a estudiosa.

Outro exemplo dessa relação flor versus polinizador dado por Laurino é com o cambucizeiro. “As flores têm formatos diferentes, abrem em horários diferentes. A flor de cambuci, que abre às 4 da manhã é polinizada por uma abelha (Ptiloglossa latecalcarata) que voa principalmente com pouca luz. Então, ela visita e poliniza estas flores às 5 da manhã, quando está começando a clarear o dia”, explica.

Estes fenômenos, concorda a pesquisadora, ressaltam a relevância de se preservar a biodiversidade das abelhas, hoje ameaçadas pelo uso irregular de agrotóxicos.

 

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